Tradicional ponto de encontro de fãs de Raul Seixas, o Bar do Kaká, na Rua Augusta, São Paulo, foi o local escolhido para a comemoração dos 30 anos do Raul Rock Club, o mais antigo e tradicional fã-clube dedicado ao cantor baiano. A festa, no domingo passado, antecipou em dois dias a data de fundação do clube: 28 de junho de 1981 — não coincidentemente, o mesmo dia e mês de nascimento do ídolo. Raul, morto em 1989, completaria 66 anos hoje.
Paulo de Araujo/CB/D.A Press - 17/2/09 |
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"É um filme que relata a história do Raul através das músicas. Tudo que ele provocou na vida é contado pelas canções"
Walter Carvalho, diretor |
O paulistano Sylvio Passos, hoje com 48 anos, fundou o clube aos 17, quando conheceu Raul. A relação fã-ídolo, ele conta, durou só os primeiros meses. “Depois virou amizade mesmo, brothers para toda e qualquer situação. Como digo: éramos amigos de mesas de boteco a clínicas psiquiátricas.”
O cantor confiou ao amigo um vasto material. Fazem parte do acervo do fã-clube manuscritos, roupas, fotografias, instrumentos musicais, diversos objetos que pertenceram a Raul e incontáveis fitas de rolo com gravações das mais diversas (muitas delas, raridades, acabaram no LP Let me sing my rockn’n’roll, organizado por Sylvio).“O Raul Rock Club sempre foi um fã-clube atípico. As atividades estão mais focadas em produções de discos, livros, eventos de porte, ações sociais e, evidentemente, com a preservação da memória do artista, visto que no Brasil pouco se faz pela memória daqueles que tiveram importância significativa para a história deste país”, define Sylvio.
Ainda que com várias sessões em construção, a versão digital do fã-clube (www.raulrockclub. com.br) continua como um dos melhores pontos de partida para quem quiser conhecer outras obras e admiradores do maluco beleza. Com a internet ficou não só mais fácil encontrar pessoas com interesses em comum, como pesquisar a trajetória de um artista. Com Raul não é diferente. Em sites de relacionamento, blogs ou revistas virtuais é possível garimpar bastante informação sobre o músico soteropolitano.
Nas livrarias e sebos também podem ser encontrados outro importante manancial de informações sobre Raulzito. Existe mais de 30 livros publicados dedicados ao cantor. Toninho Buda, autor de A paixão segundo Raul Seixas (publicação definida como uma obra de ficção, baseada em fatos reais) acredita que ainda assim o mercado carece de uma boa biografia de Raul Seixas. “Passados 22 anos de sua morte e quase 40 desde que ele começou a fazer sucesso é difícil acreditar que alguma coisa ainda não tenha sido esmiuçada em sua vida e obra. Mas os livros a seu respeito são todos muito superficiais e é impossível torná-los uma unidade coerente”, avalia.
No cinemaO músico e jornalista Ayrton Mugnani Jr., autor da biografia Eu quero cantar por cantar, acredita que, tal como acontece com Renato Russo, os Beatles, Elvis e tantos outros, sempre é possível encontrar um novo enfoque para falar de um artista. “O uso de percussão de umbanda, viola caipira, ritmos nordestinos nas músicas de Raul ainda podem ser estudados mais profundamente”, exemplifica.
O jornalista Edmundo Leite encarou o desafio de fazer um livro sobre Raul Seixas. Sua pesquisa começou em 2004 e desde então ele realizou mais de uma centena de entrevistas, no Brasil e no exterior, com pessoas que conviveram com o cantor. “A história dele é fantástica e ainda há muito a ser dito sobre o Raul. Decidi escrever a biografia justamente por considerar que a história dele ainda não está bem contada. Vários aspectos importantes de sua vida e da sua obra ainda são desconhecidos até mesmo dos fãs mais fervorosos. Sobre a criação musical, por exemplo, há muita coisa a se contar”, conta Edmundo.
Toninho Buda enxerga no filme Raul Seixas — o início, o fim e o meio, de Walter Carvalho, a possibilidade de uma biografia com novidades até para os fãs. “Eles entrevistaram pessoas que nunca haviam sido ouvidas, como Euclydes Lacerda de Almeida. Este homem, que no cotidiano tinha sido um funcionário exemplar da Petrobras, havia sido também instrutor de magia de Raul Seixas e Paulo Coelho dentro da famosa Ordo Templi Orientis, organização secreta a que eles pertenceram nos anos 1970. Euclydes nunca havia falado antes sobre o assunto, e faleceu poucos meses depois da entrevista”, conta Buda.
“É um filme que relata a história do Raul através das músicas. Tudo que ele provocou na vida é contato pelas canções”, detalha Walter Carvalho. Atualmente, o documentário está em fase de pós-produção. A expectativa é que estreie ainda no segundo semestre, provavelmente em algum festival. “O filme é uma confirmação da personalidade irreverente do Raul. Do artista libertário que ele foi e, de certa forma, ainda é. Esse é o perfil do personagem que nós pegamos”, continua o cineasta, que explica ainda que, para contar, em detalhes, da infância à morte do cantor, seria preciso seis horas (seu filme tem duas).
Para o brasiliense Humberto Martins, que se apresenta cantando músicas do ídolo como Tika Seixas, novidades sobre Raul não são tão necessárias quanto o que se sabe sobre o cantor que ainda causa encanto. “A visão dele sobre as coisas não envelheceu. Tente outra vez é atual até hoje. Ave Maria da rua para mim é uma oração.” No próximo domingo, Tika Seixas fará uma homenagem ao mestre Raul na cervejaria Kaixa D’Água, Praça da CNF, em Taguatinga Norte, a partir das 17h.
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