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domingo, 18 de julho de 2010

Pife moderno

Segue texto de Irlam Rocha Lima, publicado na edição de domingo (18/07) do jornal Correio Braziliense.


Pife moderno


Grupo formado por mestre do pífano e jovens universitárias se apresenta hoje na festa Sambaluayê e prepara o lançamento do primeiro disco

  • Irlam Rocha Lima




  • Breno Fortes/CB/D.A Press


    Marcelo Ferreira/CB/D.A Press - 15/10/08



    Um músico autodidata é mestre de jovens universitárias e com elas desenvolve elogiado trabalho, iniciado em oficinas na Universidade de Brasília. A experiência já passou por vários palcos da cidade e foi levada a outros lugares. Pouca gente conhece o carpinteiro Francisco Gonçalves da Silva, mesmo em Ceilândia Sul, onde mora desde 1993. Mas em todo o Distrito Federal muita gente já ouviu falar de Zé do Pife, o artesão que confecciona pífanos e tira desse instrumento sons característicos da região nordestina. Sons melodiosos que emocionam quem escuta ele tocar.


    Andressa Ferreira, Kika Brandão, Gutcha Ramil, Isa Flor, Júlia Ísis, Luciana Bergamaschi, Maísa Amorim, Naira Carneiro e Valéria Lehmann ficaram tão impressionadas ao ouvi-lo que viraram discípulas desse pernambucano de 67 anos, natural de São José do Egito, e logo formaram um grupo com ele, batizado de Mestre Zé do Pife e As Juvelinas. Hoje, às 16h, eles participam da Sambaluayê — Festa da Miscigenação, no Arena Futebol Clube, com Renata Jambeiro, Noca da Portela e Moyseis Marques. Em breve, lançam o primeiro disco.

    Faz três anos que as meninas — à época com idade média de 20 anos — se juntaram ao instrumentista. “Conhecemos Seu Zé nas oficinas de pífano no Núcleo de Dança da UnB. Inicialmente, Naira, Luciana e eu. Depois, entusiasmadas com o que vimos e ouvimos, convidamos as amigas Maísa, Isa, Andressa e Julia para participar das oficinas. A Kika, que estuda no Uniceub, também foi convidada. A última a se juntar a nós foi a Gutcha”, lembra Valéria.

    A oficina de pífano é uma iniciativa de Max Müller, coordenador de projetos comunitários avulsos, no âmbito da Diretoria de Esporte, Arte e Cultura (DEA/UnB). “A história começou no encontro casual que tive com o mestre Zé do Pife na universidade. Fiz o convite a ele para ministrar a oficina, prontamente aceito. Inicialmente foram duas turmas, cada uma com quase 60 participantes. Entre 2007 e 2009, mais de 200 pessoas tiveram aulas com ele”, diz Müller. “O mestre utiliza o método de cunho, diria-se, auditivo-imitativo-intuitivo-dialogal e faz o resgate da ancestral relação mestre-discípulo”, acrescenta.

    Da oficina ao palco
    Pouco depois de tomar parte nas oficinas, As Juvelinas (que ainda não tinham esse nome) costumavam fazer apresentações informais, em frente ao restaurante universitário da UnB. “Nosso primeiro show foi na Casa do Cantador, em Ceilândia. Como vimos que a coisa estava ficando séria, fomos em busca de um nome, que surgiu depois de muita conversa. Quem deu a ideia de As Juvelinas foi Seu Zé, tendo como justificativa o fato de sermos todas jovens”, conta Valéria, que toca pífano, rabeca, violoncelo e canta.

    Todas as integrantes do grupo são vocalistas e tocam mais de um instrumento: Kika (pífano e pandeiro), Maísa (pífano, pandeiro e flauta doce), Naíra (pífano e sanfona), Andressa (caixa, pandeiro e violão), Gutcha (violino e pratos), Isa (ganzá e zabumba), Júlia (contra-surdo e pandeiro) e Luciana (triângulo e prato). Segundo Valéria, no início só havia pífanos e percussão. Hoje, algumas fazem até números circenses.

    O grupo, depois de muitos ensaios, passou a apresentar-se em diferentes locais da cidade, entre eles Museu da República, Centro Cultural Banco do Brasil, Hospital Sarah Kubitschek, Complexo Cultural da Funarte (Festival de Cultura Popular e Brasília Outros 50). “Fora de Brasília, participamos do Encontro dos Povos do Grande Sertão Veredas, em Minas Gerais, e do Festival de Cultura da Chapada dos Veadeiros, em Goiás.” Recentemente, Valéria, que é formanda em educação musical, acompanhou Zé do Pife em uma viagem a Riacho do Meio (município de São José do Egito), local de nascimento do mestre, e lá eles tocaram na Igreja de Nossa Senhora da Conceição.

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